A morte dos shoppings, o fim do Facebook e o futuro criado pelos Millennials

 AAEAAQAAAAAAAAV5AAAAJDQ2MGRiZTk2LTBmZTItNDNlOS05OTA4LTkyOWQ2MGM1NDE5NQUm estudo da CompTIA chamado “How milennials may change the workplace” mostrou que o ambiente de trabalho no futuro irá muito além das fronteiras com vida pessoal. Este estudo avaliou a chegada da geração Millennials (nascidos entre 1980 e 2000) ao mercado de trabalho e identificou alguns direcionamentos que vão fazer sucesso no futuro, como maior ênfase no engajamento nas mídias sociais e conhecimentos em tecnologia. Eu sou millennial, tenho 30 anos e concordo com muito do que tenho pesquisado neste sentido.

A geração Millennials prefere ambientes flexíveis de trabalho e busca poder trabalhar naqueles que ofereçam opções remotas, ou seja, que eles possam trabalhar de casa, mesmo que precisem ganhar menos para isso.

As novas gerações estão ditando o futuro e pode ter certeza que seus filhos e netos não vão querer ser o clichê “médico” ou “advogado” quando crescerem, apenas. Existem profissões que sequer surgiram ainda. Aliás, fiz um artigo sobre isso chamado “Growth hacker, pilotos de drones e as profissões que ainda não foram inventadas”. Veja também este artigo do Prof. Patrick, “Profissões ameaçadas pela tecnologia e a necessidade de nos reinventarmos em nossas carreiras“.

Além disso, daqui a alguns poucos anos trocar de profissão, reinventar-se ou fazer diversas coisas diferentes como forma de trabalho não será mais problema ou alvo de julgamentos. Ninguém precisará ficar preso na mesma profissão para sempre e uma pessoa não será mal vista porque é multifacetada ou realiza diversas tarefas, como ocorre hoje (comumente chamados de não focados em uma área). Mas essas  mudanças vão muito além do mercado de trabalho e vão impactar o mundo de diversas formas.

Uma das áreas impactadas é o marketing e no vídeo logo abaixo ficará claro que estamos diante de algo muito novo e que precisaremos começar a planejar urgentemente novos produtos, ações, ideias para atender às novas gerações. Não será fácil desprender-se e pensar com a mente delas:  um exemplo é a resistência ao Uber, assim como antigamente resistiram ao computador pensando que substituiria professores, ou pior, quando não queriam que lâmpadas fossem vendidas porque acabaria com os fabricantes de velas.

Os Millenials já compram, vão comprar mais e influenciar compras. Não vão assistir apenas propagandas, mas esperar interação com elas e conteúdos personalizados. Eles querem cocriar e podem mudar um negócio da noite pro dia. Serão ricos ainda novos, por suas próprias criações e produções, assim como já se podem ver os “youtubers”, que ganham rios de dinheiro com seus vídeos sobre diversos temas.

O fim do Facebook?
Se as profissões, os comportamentos e o marketing mudam, as redes sociais que fazem sucesso hoje também não serão as mesmas para sempre. O Orkut foi sucesso um dia, mas está morto.

O Mashable ouviu millennials para descobrir motivos pelos quais eles estão deixando o Facebook e migrando para outras mídias, como o Whatsapp e o Snapchat. Muitos afirmaram que se sentem felizes ao serem livres do Facebook porque não precisam mais sustentar aparências por lá. Eles acreditam que diante de tanto conteúdo e anúncios, existe pouco espaço para uma real socialização entre amigos neste ambiente.

Disseram ainda que às vezes mantém a conta, mas não a usam e que não falam com muitas das pessoas com as quais estão conectados.

O Facebook teria se tornado um palco aonde as pessoas promovem suas opiniões e frustrações, ao invés de realmente se comunicarem.

Além disso, o Facebook escancara informações sobre a vida da pessoa e pode prejudicar inclusive contratações de trabalho. Na pesquisa, eles também citaram que não querem se sentir obrigados a compartilhar situações que ocorrem no dia a dia, como a perda de um emprego ou o término de um namoro.

Um estudo do  Departamento de Ciências Comportamentais da Universidade de Utah questionou mais de 400 estudantes sobre seus modos de utilizar o Facebook e suas percepções sobre os outros. As respostas envolveram comentários como “eu era mais feliz antes de usar, porque agora estou gastando tempo e vendo a vida dos outros melhor que a minha”.  Hoje parece estranho dizer que o Facebook vai acabar, mas veja só, minha avó já está no Facebook. E isso certamente é sinal de que ele está ficando para trás.

Além da debandada dos adolescentes, é natural que ocorra o envelhecimento dos usuários e existem pesquisas afirmando que a popularidade da rede vai cair e, quiçá, deixar de existir em 2018. Um estudo de dois pesquisadores da Universidade Princeton, mostrou que as postagens caíram, assim como as buscas pela empresa e apontou a perda de usuários.

O futuro baseado em vídeos – que duram pouco

Em 2015 vivemos o ano em que o vídeo ganhou enorme destaque. O próprio Facebook investiu em permitir e incentivar que os usuários subissem vídeos na própria plataforma, sem compartilhar links de Youtube, por exemplo.

Falando sobre o sucesso dos vídeos e o engajamento dos usuários, em novembro deste ano o Snapchat passou o Facebook em visualização de vídeos, de acordo com a proporção do número de usuários (100 milhões de usuários no Snapchat – que só podem ser vistos no mobile e 1,55 bilhão no Facebook – que podem ser vistos em qualquer dispositivo).

De acordo com a comScore, o Snapchat está deixando para trás Twitter, Pinterest, Google+, Vine e Tumblr, e chama a atenção em seu relatório de 2014, pois o aplicativo social já é a terceira ‘rede social’ mais utilizada pelos Millennials norte-americanos, na faixa etária entre 18 e 34 anos.

O co-fundador do Snapchat, Evan Spiegel, tem apenas 24 anos, é o responsável pela equipe de 330 funcionários, e já recusou uma oferta de mais de US$ 3 bilhões pelo Facebook no final de 2013, quando a receita da rede social era de zero dólares ao ano. Agora, eles se preparam para começar a negociar com grandes anunciantes e seus números mostram que sua maior audiência é maior e mais obsessiva que qualquer programa de televisão.

O sucesso do Snapchat entre os jovens pode significar que este tipo de linguagem é a preferida entre eles e a possibilidade de facilmente gravar sua rotina e do fato que o vídeo ficará no ar apenas 24 horas e depois vai sumir, os estimula a realmente compartilhar seus momentos não muito planejados sem medos e sem precisar estar bonitinho para aparecer. É diferente de usar um Instagram ou o Facebook, nos quais as fotos são mais planejadas, por exemplo.

Outro argumento é que por ser novo e não muito intuitivo de usar, eles entendem que seus pais ainda não estão lá para vigiá-los, diferente do Facebook, que agora é habitado por toda a família deles. Podemos entender que caminhamos para continuar usando vídeos para nos expressarmos e que o futuro pode ser baseado em materiais que se destruam e não fiquem muito tempo no ar.

Shoppings vão morrer?
Lojas físicas precisarão repensar sua razão de ser

Se os comportamentos de consumo, as plataformas e as carreiras mudam, outras áreas sofrerão impacto. O Netflix praticamente matou as locadoras de vídeo. O Google aposentou os mapas e as listas telefônicas impressas. A Kodak perdeu milhões durante meses observando a venda de câmeras fotográficas caírem, porque o digital e o smartphone a venceram. E quantas coisas mais surgirão e do dia para a noite impactarão negócios e modelos existentes que hoje acreditamos serem tão sólidos? Não acho certo pensamos com nossa mente limitadora de nossa geração e afirmar que isso ou aquilo não vai acontecer: estamos à mercê da próxima inovação disruptiva ou catalítica que vai modificar comportamentos e modelos. Leia este artigo do Edmardo Galli, sobre “O mundo nos próximos 20 anos” baseado no original publicado no Huffington Post, que fala sobre o que 7 grandes futuristas disseram sobre o que está por vir.

Veja este vídeo do Harvard Business Review (em inglês) sobre como a inovação disruptiva cria novos mercados.

Em eras de economia compartilhada, na qual a ideia não é “possuir”, mas experienciar e usar um bem como serviço, apenas quando ele realmente lhe for útil e evitando o acúmulo de tranqueiras (leia o artigo que escrevi sobre “Vida on-demand: Tripda, Airbnb, EatWith e a economia compartilhada“) podemos esperar grandes mudanças em relação ao quanto consumimos e as formas como compramos.

Pra quê comprar um DVD que será assistido no máximo duas vezes e depois vai virar algo mais para acumular pó na estante? Pra quê comprar uma bicicleta que logo vai se tornar velha e será difícil de guardar em seu apartamento se você pode alugar um modelo diferente todo mês? É nesse pensamento que se baseia esse novo modelo. Na economia compartilhada a posse se torna obsoleta e sustentabilidade está em alta, pois o modelo transforma o que antes viraria algo encostado e pouco usado em algo que pode ser útil a outras pessoas e ainda virar um negócio. Neste sentido, lojas de modo geral e lojas físicas especificamente podem sofrer um impacto, não só em relação ao consumo, mas às formas de se consumir.

Kotler, o papa do marketing, aponta algumas características do novo marketing (veja um artigo que escrevi com 8 lições dele sobre o novo marketing). Dentre elas, o fato de que as lojas físicas terão de repensar sua razão de ser e alinhar um processo de produção que envolva compras on-line. A Amazon é um grande exemplo disso: opera on-line e, por isso, desde sempre pode se focar em atender a diversos nichos (veja um artigo que escrevi sobre nichos e cauda longa), que não poderia atender se contasse com uma loja física, sujeita a um tamanho de estoque determinado.

O e-commerce é um modelo que será cada vez mais aprimorado para sobrepor as barreiras de compra pela internet e dificilmente negócios sobreviverão sem esta modalidade. Um modelo que poderia ser eficiente para atender à essa evolução seria o omnichannel (veja este artigo da Catarina Pierangeli sobre omnichannel), onde os diferentes meios se articulam para atender o consumidor por diferentes meios, horários e tipos de serviço.  Tudo isso porque o consumidor que poder navegar por diferentes canais, como comprar on-line, mas trocar na loja física.

Para Kotler, as lojas físicas não vão desaparecer, mas precisarão encontrar uma razão convincente para existirem. Elas podem se tornar, por exemplo, um lugar para viver experiências, na qual você poderá fazer diversas coisas. Uma possibilidade é que as peças de roupas sejam apenas provadas nesses locais, que só teria uma peça de cada modelo ou tamanho, por exemplo, mas a compra do produto mesmo ocorreria on-line e chegaria sob medida na casa do cliente, assim como já tem ocorrido com lojas de móveis e eletrodomésticos.

O Wal Mart iniciou testes sobre outras formas de logística envolvendo drones para  realizar entregas  nos Estados Unidos. Isso aponta para outros moldes e possibilidades de comércio.

A própria internet das coisas vai adicionar uma camada de serviços nos equipamentos e eletrodomésticos do dia a dia, vai mudar muito nossa rotina de fazer compras: a inteligência dela poderá nos poupar de precisar fazer compras no mercado, porque a própria geladeira poderá fazer o pedido on-line.

Nos Estados Unidos um fotógrafo (sob o pseudônimo Seph Lawless) se dedicou a fotografar shoppings centers abandonados e reuniu o material em um livro chamado “Black Friday“. Leia a reportagem completa aqui.

O setor de shopping centers se deparou com um cenário novo para o mercado brasileiro no último ano: o lançamento de shoppings com mais lojas fechadas do que abertas. Uma pesquisa do IBOPE Inteligência revela que a taxa média de vacância nos 36 empreendimentos inaugurados no ano passado foi de 50%, o que significa que de cada duas lojas, uma estava fechada por falta de locatário. Entre os shoppings inaugurados a partir de setembro, a taxa média de ocupação em 21 deles foi de 38%.  Diversos fatores podem ter contribuído para esse cenário. O primeiro é a localização, fundamental para o sucesso de um empreendimento. Muitos shoppings foram inaugurados em mercados que não tinham demanda para abrigar mais um ou, em alguns casos, mais dois centros comerciais. Além disso, para Fabio Caldas, coordenador de pesquisa na área de shoppings do IBOPE Inteligência, um deles é fato de “o ritmo de crescimento do varejo não ter acompanhado o avanço dos shoppings”. Ele entende que o mercado terá de se acostumar a um novo ritmo. A tendência é “segurar” novos lançamentos em shoppings e investir para atrair lojistas para os espaços ainda não alugados. Diante desse cenário, ele afirma que os empreendedores de shopping e os lojistas devem desenvolver novas estratégias para alcançar o sucesso. (Referências aqui eaqui).

Nos EUA, 15% dos shoppings vão falir ou ser transformados em outros espaços comerciais nos próximos dez anos, sendo pesquisa da Green Street Advisors.

Como profissionais precisaremos ficar de olho nessas tendências e não esperar que elas se tornem realidade para fazermos algo.

 

*Para deixar claro: artigos como este não são baseados em achologia, mas embasados por estudos e pesquisas.
**Deixo claro que não sou a favor ou contra shoppings ou ao fim de esta ou aquela rede social. São tendências. Nem sempre se revelam verdade, às vezes acontecem antes ou depois do previsto. Às vezes não acontecem. E às vezes acontecem mais forte ou mais suave do que o imaginado. Considerar estas tendências é importante, elas nos dizem muito e desde já podemos refletir o que fazer para não ficar para trás, seja como sociedade, como profissionais ou empresas.

*********************************
AAEAAQAAAAAAAAZ4AAAAJDlkOTkwYTlmLWFjZDQtNDM3Ni05MjQwLTY5ZmMxMWFhZWY3OAFlavia Gamonar

Professora Mestra em Mídia e Tecnologia pela Unesp e gerente de marketing.
Especialista em marketing de conteúdo e pesquisadora apaixonada de marketing, mídias sociais, inovação e empreendedorismo.

Minha página no LinkedIn

Veja todos os artigos que escrevi:
 https://www.linkedin.com/today/author/37137911
Meu blog: assine a newsletter e receba meus artigos
www.flaviagamonar.com